Ensaio Sobre a Cegueira (2008)

Ensaio sobre a Cegueira é um filme de 2008 produzido em parceria entre Japão, Brasil e Canadá, dirigido por Fernando Meirelles e escrito por Don McKellar, baseado no livro do escritor português José Saramago.

Sinopse: Numa cidade grande, o trânsito é subitamente atrapalhado quando um motorista de origem japonesa, não consegue dirigir e diz ter ficado cego. Ele é ajudado a chegar em casa por um homem, que acaba por roubar seu carro. No dia seguinte ele e a mulher vão consultar um oftalmologista, e o cego explica que uma “luz branca” impede sua visão, mas o médico não descobre nada de errado com os olhos dele. Pouco tempo depois, todas as pessoas que tiveram contato com ele – sua esposa, o ladrão, o doutor e os pacientes da sala de espera do consultório – também ficam cegas. O governo trata a doença como uma epidemia e imediatamente coloca de quarentena os doentes, em uma instalação vigiada o tempo todo por soldados armados. A mulher do oftalmologista é a única que não é afetada, mas finge estar com a doença para acompanhar o marido em seu confinamento.

Como você reagiria se estivesse parado em um sinal de trânsito e de repente ficasse cego? Pior ainda, como você acha que uma cidade inteira reagiria a uma epidemia inexplicável de cegueira? E dá pra piorar, como você reagiria se percebesse que, no meio dessa epidemia, você o único que ainda enxerga?

Essa fantasiosa epidemia de “cegueira branca” é a premissa de “Ensaio Sobre a Cegueira” (Blindness), de Fernando Meirelles, uma adaptação do livro de mesmo nome do escritor português José Saramago que ganhou o Nobel de Literatura pela obra. O filme foca suas atenções no isolamento dos cegos, em um manicômio abandonado dividido por alas, que vira terra de ninguém a partir do momento em que a cegueira desperta os instintos mais selvagens de sobrevivência em cada um.

Os personagens do filme, assim como eram no livro, não têm nome, da mesma maneira que a cidade também não é identificada, dando margem a todos os espectadores se identificarem. Mark Ruffalo é o Médico, um oftalmologista que, por sua condição, acaba se tornando o líder da sua Ala. Alice Braga é a Mulher de Óculos Escuros, uma prostituta de luxo que acaba fazendo as vezes de mãe do Garoto (Mitchell Nye); Danny Glover é o sábio Homem com o Tapa-olho Preto; Gael Garcia Bernal é o inescrupuloso Rei da Ala 3. Don Mckellar é o Ladrão, que roubara o carro do Primeiro Homem Cego (Yusuke Iseya). Por último, mas mais importante de todos, Julianne Moore é a Mulher do Médico, alter ego de Saramago na história, e a única que continua a enxergar.

Como fã do livro, eu tinha expectativas altíssimas com o filme. Um livro pesado, intenso, polêmico, mas com uma mensagem atordoante e única, posta de maneira brilhante por Saramago através dessa grande metáfora sobre a cegueira causada pelo capitalismo que é Ensaio Sobre a Cegueira. Entretanto, todas as minhas expectativas não chegavam perto do que o filme alcança.

Fernando Meirelles fez um trabalho brilhante. A iluminação do filme é uma sacada genial, jogando a maior quantidade de branco possível em vídeo, fazendo com que todos se sintam um pouco cegos. O elenco, estelar, não decepciona em momento algum. Gael Garcia está insuportável e completamente odiável como o Rei da Ala 3. Mark Ruffalo faz um trabalho consistente como o Médico, assim como Alice Braga e Danny Glover. Agora, o mérito maior do filme é, sem sombra de dúvidas, do personagem mais complexo e do qual mais se esperava: Julianne Moore. Uma verdadeira deusa da atuação, ela brilha a cada segundo que aparece na tela. Toda a intensidade, complexidade, angústia e medo, por ser a única a enxergar, são transparentes.

[spoilers] Óbvio que nem tudo são flores, até mesmo porque trata-se de uma adaptação de um livro. Os personagens de Danny Glover e Alice Braga acabam sendo um pouco desperdiçados, pois no livro eles rendem muito mais. E a cena do cão que chora, momento que é extremamente tocante no livro, acaba perdendo um pouco da sua importância na adaptação, mas isso se deve, ao meu ver, ao fato de que as palavras usadas por Saramago pra descrever a cena são tão brilhantes que ficaria quase impossível de retratar em vídeo. A cena do estupro, outro ponto alto no livro, também é muito mais leve do que no livro, o que nesse caso é inexplicável, já que em imagem deveria ter sido mais chocante.

Mas esses são pontos que não tiram em momento algum o brilho do filme. É uma produção maravilhosa, única e que nos faz pensar durante um bom tempo após assisti-la, e repensar nossos valores e nossas atitudes. Verdade seja dita, o slogan não poderia ser melhor. Após assistir o filme, sua visão de mundo vai mudar pra sempre.

blindness_ver3

Deixe seu comentário! =)